“- Eu te conto se tens paciência de escutar estórias antigas, de um sonho mágico, mas real e bonito, nesse tempo...
Mamã Bonita, era a menina mais bonita, mais garbosa, mais jeitosa de Almeirim, quando estava a flimá (passagem da adolescência à juventude).
Mas Sam Bonita (Senhora em crioulo local) garota ainda, com as trancinhas enroladas debaixo da orelha, agitava mimóia (brinco) que gente não sabia, nem ninguém dizia de onde veio.
Não ligava a qualquer rapaz atrevido que queria namorar essa donzela.
Segunda feira de manhã, Bonita punha a sua gamela de roupa à cabeça, com sabão bola bola (sabão amassado com as mãos em forma de bola para lavar a roupa com mais facilidade), já amassado em casa, para não dar trabalho.
Avó Santinha, já tinha largado o quinté (terreiro de habitação onde se encontram situadas várias casas de pessoas da mesma família, contendo um terreno com árvores e plantas variadas), madrugada cedinho, para encontrar boa pedra e bom lugar lá na Ponte Tavares, nesse Água Grande das lavadeiras, das labandelas dos nossos rios.
Mal pisava a água, Bonita largava a gamela ao lado da mais velha e corria para a beira da estrada em busca do bom dia da semana.
É que no cantinho do caminho, onde começa a vereda que leva à roça, estava a surpresa ansiada, mas sempre conhecida e sempre apetecida, num quali (cesto grande feito de hastes de palmeira) grande da padaria Estrela Grande. (...)”
Alda Espírito-Santo in Mataram o Rio da minha Cidade, 2002, pg. 11 e 12
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