

Espaço Cultural dedicado à produção artística santomense, criado a partir do e-Grupo Caminhadas e Descoberta em STP. Os autores de prosa e de poesia, mostras literárias; os contos tradicionais; os narradores de histórias; os pintores; os escultores; os artesãos e tanto mais.
SEMANA DE SÃO TOMÉ – RESTAURANTE Terreiro do Paço (Lisboa)
Cozinha equatorial, feita de ingredientes e temperos exóticos (preços entre 12.10€ e 13.90€ o prato)
Segunda-feira, dia 30 de Maio
Azagoa de carne (carne de porco, folha de Mandioca e feijão vermelho com farinha de mandioca)
Calulu de peixe (garoupa, tomate, malagueta e quiabos com arroz e farinha de mandioca)
Terça-feira, dia 31 de Maio
Molho de fogo (peixe fumado, peixe salgado, tomate, coentros e limão com banana cozida)
Jogo (cação e garoupa, fruta pão com arroz e farinha de mandioca)
Quarta-feira, dia 01 deJunho
Feijão à moda da terra (feijão vermelho, peixe fumado, tomate, ossame e pau de pimenta com arroz)
Arroz de Peixe da Terra
Quinta-feira, dia 02 de Junho
Muqueca de Peixe (pargo, tomate, beringela, óleo de palma com arroz)
Peixe Limão (garoupa, matabala, piri-piri, farinha de mandioca, sementes de óssamo e mocócó)
Sexta-feira, dia 03 de Junho
Azagoa de Peixe (corvina e pargo fumados, folha de mandioca e feijão vermelho com farinha de mandioca)
Calulu de Carne (galinha, tomate, cebola, malagueta e quiabos com arroz e farinha de mandioca)
Sábado, dia 04 de Junho
Calulu de peixe (garoupa, tomate, malagueta e quiabos com arroz e farinha de mandioca)
Domingo, dia 05 de Junho
Azagoa de carne (carne de porco, folha de Mandioca e feijão vermelho com farinha de mandioca)
OS DOCES DE SÃO TOMÉ (entre 3.20€ e 3.50€)
Aranha
Arroz de milho
Cocada
A STUDIUM e a Associação Amigos do Príncipe, numa organização conjunta com o Restaurante Terreiro do Paço, vão realizar a I Mostra Gastronómica dos Países de Língua Portuguesa, sob a orientação do Chefe Vitor Sobral.
O evento decorrerá entre 25
Contactos :
TEL: 210312850 FAX 210 312 859
Email: terreirodopaco@quintadaslagrimas.pt
A gastronomia é uma vertente forte
A primeira semana gastronómica traz à mesa do restaurante TERREIRO DO PAÇO a cozinha de São Tomé e Príncipe. É uma ocasião para saborear o CALULU de São Tomé e o MOLHO DE FOGO do Príncipe entre outros manjares exóticos e que raramente chegam às nossas mesas.
A gastronomia de
É uma cozinha de tacho, feita de tradições passadas de geração em geração. É uma cozinha tão fascinante como o é
O restaurante Terreiro do Paço situa-se na praça do mesmo nome, junto ao cais onde
O Terreiro do Paço enquanto cais de ver partir assumiu um papel importante como entreposto comercial e cultural. E, como entreposto cultural, o Terreiro do Paço quer
Português na capital.
Parte da receita desta mostra gastronómica será doada à Associação para a Reinserção das Crianças Abandonadas e em
Eis-me Aqui
“Estou aqui
a contar-te dos caminhos que percorro
velhos estreitos esventrados
caminhos de sulcos e de cabras onde
nossos avós colheram pão de côdea dura
estou aqui
a contar-te dos cheiros doces e acres
dos frutos tropicais
cheiros que se foram confundindo no sangue
que se afundou em docas e mares mas que emergiu
mais vermelho que o chão da nossa terra
estou aqui inteira viva irrequieta como pássaro
que acasala no equilíbrio de um ramo
e como tu quero ferir meus pés
no lençol de pedras que atapeta o ôbô
inundar de algas azuis o corpo reflectido
no espelho das calemas
estou aqui para escutar o vento no zinco dos casebres
e exorcisar os medos que vagueiam na linguagem do povo
estou aqui como tu
borboleta tricolor que pousa no eco das muralhas
e morre a ouvir histórias de um país calcinado”
in Água Crioula
EM TORNO DA MINHA BAÍA (1963)
”Aqui, na areia,
Sentada à beira do cais da minha baía
do cais simbólico, dos fardos,
das malas e da chuva
caindo em torrente
sobre o cais desmantelado,
caindo em ruínas
eu queria ver à volta de mim,
nesta hora morna do entardecer
no mormaço tropical
desta terra de África
à beira do cais a desfazer-se em ruínas,
abrigados por um toldo movediço
uma legião de cabecinhas pequenas,
à roda de mim,
num voo magistral em torno do mundo
desenhando na areia
a senda de todos os destinos
pintando na grande tela da vida
uma história bela
para os homens de todas as terras
ciciando em coro, canções melodiosas
numa toada universal
num cortejo gigante de humana poesia
na mais bela de todas as lições
HUMANIDADE.”
A verdadeira origem do célebre Rei Amador, líder da revolta dos escravos em 1595*
por Gerhard Seibert
Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), Lisboa
Este ano o dia 4 de Janeiro tornou-se feriado nacional em homenagem ao Rei Amador, líder da revolta de escravos em 1595. Segundo a mitologia pós-colonial em São Tomé e Príncipe, o Rei Amador, representado nas notas bancárias do país(1), era rei dos angolares. A todos os visitantes do arquipélago, interessados na sua história, conta-se esta lenda, que foi divulgada desde a independência. No pequeno texto ‘Esboço Histórico das Ilhas de S.Tomé e Príncipe’, publicado em 1975 e atribuído ao historiador Carlos Neves lemos que “A 9 de Julho de 1595 o célebre Amador à frente dos Angolares, levanta o estandarte da revolta, mas é preso e morto em 1596.” (2) Esta versão também se encontra em obras literárias da temática santomense. Por exemplo, na sua peça ‘Teatro do Imaginário Angolar’ o escritor português com ascendência santomense-angolar Fernando de Macedo Ferreira da Costa, explica que Amador é o “célebre guerreiro que, comandando as hostes Angolares (reforçadas de outros negros revoltados), ousou avançar sobre a capital de S.Tomé”. (3) Não admira que esta versão também tenha sido divulgada por guias turísticos e documentários sobre STP. Contudo, será que os documentos históricos confirmam a afirmação que Amador era Angolar?
Os únicos documentos contemporâneos existentes da revolta encontram-se na Monumenta Missionária Africana, publicada pelo Padre António Brásio. O primeiro documento, em italiano, intitulado ‘Relatione uenuta dall’ Isola di S.Tomé’, cujo original está nos arquivos do Vaticano, diz sobre os acontecimentos de Julho de 1595 que os escravos se colocaram na “obedienza di quel primo Negro che si solleuó, chiamato per nome Amadore, il quale era schiauo di un Gentil ‘huomo chiamato Don Ferdinando, et in questo mentre alzorono detto Negro per Re, giurando di obedirgli fino alla morte...”. Assim, de acordo com este documento, Amador era escravo de um Dom Fernando. (4) O segundo documento, um breve texto arquivado na Biblioteca Nacional em Lisboa, relata: “No anno de 1595 um preto da Ilha de S.Tomé, chamado Amador, se levantou com os homes da sua cor, e se proclamou Rei da mesma ilha, commettendo os excessos que erão de esperar d’uma besta feroz...” (5) Também este relatório não confirma que Amador pertencia aos negros fugitivos do interior da ilha que mais tarde seriam conhecidos por angolares.
Vamos ver o que dizem as crónicas sobre São Tomé, escritas muito mais tarde, acerca do líder da revolta. Em 1732 o nativo Padre Manuel Rosário Pinto relata na sua crónica de São Tomé que “[Em 9 de Julho de 1595], se levantaram os crioulos cativos desta ilha, tendo por capitão um negro [chamado] Amador, [escravo] que foi de Bernardo Vieira, por segundo capitão um Lázaro, [escravo] de Bernardo Coelho, e por alferes, Domingos Preto, [escravo] de Afonso Rodrigues.” (6) No seu livro ‘Corografia Histórica das Ilhas de S.Tomé e Príncipe, Ano Bom e Fernando Pó’ o militar português Raimundo José da Cunha Matos faz referência, em 1842, ao “sempre lamentável motim e rebelião do negro Amador…que levantou o estandarte da revolta em 9 de Julho de 1595 e foi preso e justiçado em 1596.” (7) Em 1844, Lopes de Lima refere-se à “revolta do negro Amador que … consternou toda a ilha com os inumeráveis estragos por tão horrenda sedição ocasionados.” (8) O administrador de concelho António de Almada Negreiros, o pai do escritor e artista plástico José de Almada Negreiros, que nasceu em São Tomé em 1893 diz na sua obra ‘História Etnographica da Ilha de S.Thomé’ (1895): “No meio d’este espectáculo tumultuoso, surgiu, no anno seguinte, o negro Amador, que se intitulou Rei de S.Thomé, arvorado em Atila furibundo, à frente dos da sua cor, revolucionando a ilha inteira, matando e saqueando furiosamente.” (9) Podemos assim verificar que nenhum destes autores relacionou Amador e a sua rebelião com os angolares. Donde provirá então a versão de que Amador teria sido líder dos angolares?
O primeiro autor que afirmava que Amador era angolar foi o geógrafo e poeta luso-santomense Francisco Tenreiro (1921-1963) que escreve no seu famoso livro ‘A Ilha de São Tomé’ (1961): “De 1595 e 1596 esta [a ilha de São Tomé] chega mesmo de cair nas mãos dos angolares, chefiados pela figura, já lendária, de Amador.” (10) Contudo, como pudemos verificar, esta asserção não corresponde nem a fontes históricas disponíveis sobre a referida rebelião, nem ao conteúdo dos livros do século XIX que Tenreiro conhecia e utilizava. De facto, os angolares frequentemente assaltaram as plantações de açúcar e a cidade, mas não participaram na grande revolta dos escravos de 1595.
Coloca-se assim a questão das razões que terão levado Tenreiro a transformar o escravo Amador em rei dos angolares, escravos fugitivos das plantações da cana-de-açúcar, escondidos no mato?
A resposta encontra-se em afirmações de Tenreiro sobre a escravatura em São Tomé. O geógrafo conclui “que o africano, por estes tempos de São Tomé, não estava sujeito a um regime de escravidão pura; era antes um servo a quem se pedia trabalho, mas a quem, por outro lado, se permitia uma relativa liberdade na prática dos seus hábitos…Existia assim na ilha um regime de servidão, e não de escravidão…” (11) Como escravos felizes não se levantam, Tenreiro reinventou a história, transformando a grande revolta dos escravos de 1595 num assalto dos angolares e Amador, o líder dos revoltosos, em um destes. Pela mesma razão, Tenreiro ignora outras revoltas e a constante fuga dos escravos, embora esta tivesse começado no início da sua importação, como relata o terceiro donatário Álvaro Caminha no seu testamento de 1499.(12) Em inúmeros documentos posteriores abundam os relatos sobre escravos fugidos das plantações e insurreições de escravos, contrariando a tese do regime de servidão alegado por Tenreiro.
Comprometido com o regime salazarista (13) e seduzido pelas teses do luso-tropicalismo do famoso sociólogo brasileiro Gilberto Freire, que serviam para justificar cientificamente a ideologia colonial portuguesa, Tenreiro pretendia reforçar a tese dominante da alegada brandura lusa na história das relações com os africanos para defender a presença portuguesa em África numa altura, em que outras colónias europeias no continente se tornaram Estados independentes. (14) É uma ironia da história que a invenção de Tenreiro, negando deliberadamente a escravidão e a resistência dos escravos em São Tomé, tenha sido promovida no país sobretudo após a independência.
NOTAS
* Artigo publicado na santomense revista PIÁ, nº 26, de Janeiro de 2005.
1 A imagem de Amador nas notas bancárias é uma criação artística pós-colonial atribuída ao pintor Pinásio Pina, pois não existe nenhuma pintura ou gravura deste escravo do século XVI.
2 Esboço Histórico das Ilhas de S.Tomé e Príncipe. S.Tomé: Imprensa Nacional, p.11.
3 Fernando de Macedo, Teatro do Imaginário Angolar de S.Tomé e Píncipe, Coimbra: Cena Lusófona 2000, p. 135.
4 António Brásio, Monumenta Missionária Africana, pp. 521-523.
5 Ibidem, p. 524.
6 Em 1970 o malogrado Padre António Ambrósio publicou este manuscrito com o título ‘Manuel Rosário Pinto (A Sua Vida)’. Lisboa: Centro de Estudos Históricos Ultramarinos. Na edição da PIÁ de Agosto de 2003 Albertino Bragança reproduziu um maior extracto deste manuscrito, porém, sem indicar o Padre Ambrósio como a sua fonte.
7 Lisboa, p. 11 (1916, p. 16).
8 José Joaquim Lopes de Lima, Ensaios sobre a statística das possessões portuguezas na África occidental e oriental. Livro II. – Parte I. Lisboa: Imprensa Nacional 1844, p. XI.
9 Lisboa, p. 61.
10 Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar 1961, p. 73.
11 Tenreiro 1961, p. 70.
12 A Ilha de São Tomé nos Séculos XV e XVI. Lisboa: Publicações Alfa 1989, pp. 66 a 91.
13 Em 1956 Tenreiro tinha-se tornado deputado da Assembleia Nacional portuguesa.
14 Ver também Isabel Castro Henriques, Os Pilares da Diferença. Relações Portugal-África. Séculos XV-XX. Casal de Cambra: Caleidoscópio 2004, p. 317.
“- Eu te conto se tens paciência de escutar estórias antigas, de um sonho mágico, mas real e bonito, nesse tempo...
Mamã Bonita, era a menina mais bonita, mais garbosa, mais jeitosa de Almeirim, quando estava a flimá (passagem da adolescência à juventude).
Mas Sam Bonita (Senhora em crioulo local) garota ainda, com as trancinhas enroladas debaixo da orelha, agitava mimóia (brinco) que gente não sabia, nem ninguém dizia de onde veio.
Não ligava a qualquer rapaz atrevido que queria namorar essa donzela.
Segunda feira de manhã, Bonita punha a sua gamela de roupa à cabeça, com sabão bola bola (sabão amassado com as mãos em forma de bola para lavar a roupa com mais facilidade), já amassado em casa, para não dar trabalho.
Avó Santinha, já tinha largado o quinté (terreiro de habitação onde se encontram situadas várias casas de pessoas da mesma família, contendo um terreno com árvores e plantas variadas), madrugada cedinho, para encontrar boa pedra e bom lugar lá na Ponte Tavares, nesse Água Grande das lavadeiras, das labandelas dos nossos rios.
Mal pisava a água, Bonita largava a gamela ao lado da mais velha e corria para a beira da estrada em busca do bom dia da semana.
É que no cantinho do caminho, onde começa a vereda que leva à roça, estava a surpresa ansiada, mas sempre conhecida e sempre apetecida, num quali (cesto grande feito de hastes de palmeira) grande da padaria Estrela Grande. (...)”
Alda Espírito-Santo in Mataram o Rio da minha Cidade, 2002, pg. 11 e 12
A LENDA DO CANTA GALO
“Diz a lenda que, já lá vão muitos e muitos anos, outrora S. Tomé era o refúgio de todos os galos do mundo. Viam-se galos por todas as partes da Ilha. Era ensurdecedor o cocorococó dos galos.
A Ilha parecia estar sempre em festa por causa da algazarra e do cantar dos galos, quase em todos os momentos e por todos os cantos. A alegria era infernal. Mas os galos monopolizavam a Ilha, esquecendo-se de que não eram os únicos habitantes.
Havia pessoas que estavam contentes com os galos, por causa da sua alegria contagiosa. Portanto, achavam adequado e apoiavam o barulho feito pelas aves. Outros estavam indiferentes com a algazarra. Existia, no entanto, um terceiro grupo, o mais numeroso, que achava impróprio o barulho feito pelos galos, encontrando-se, portanto, zangados com os galináceos.
Não podendo aguentar por mais tempo tanto barulho, o terceiro grupo mandou, através de um mensageiro, o seguinte aviso:
- Aconselhamo-vos a emigrarem e a fixarem-se num local muito afastado de nós. Caso contrário, haverá guerra entre os nossos grupos no período de quarenta e oito horas. O vencedor ficará no terreno.
Os galos, como eram muito educados e delicados, optaram pela primeira hipótese, convocando imediatamente uma reunião cujo tema era a escolha do rei para chefiar uma expedição que se iria processar imediatamente. A escolha recaía sobre um galo preto, muito grande.
Depois dos preparativos, a emigração começou. Deram voltas e mais voltas às ilhas e ilhéus, procurando incansavelmente um sítio bom, que reunisse todas as condições para ter uma vida alegre. Depois de muito andarem e de muito procurarem, passado um ano, encontraram o lugar ideal, que parecia criado de propósito para os galos, fixando-se então aí.
Desde esse tempo, jamais se ouviu os galos cantarem desordenadamente de norte a sul, de este a oeste, mas sim num lugar determinado e a horas certas. Então, os habitantes das ilhas designaram esse lugar por Canta Galo.
Nos nossos dias, esse local ainda existe e surgiu um distrito com a mesma designação.”
in Contos Tradicionais Santomenses, Direcção Nacional da Cultura da República Democrática de S. Tomé e Príncipe, 1984, pp. 47-51